Presente de Aniversário

Peguei minha caixa. Eu tenho uma caixa que tem um montão de coisas. Lembranças. Coisas desses 38 anos.

São agendas, fotos, cartas, bilhetes, coisinhas miúdas de grande valor.

Você tem uma caixa? O que tem nela?

Sentei na minha cama. Abri a caixa. De lá saiu tudo.O quarto ficou cheio de risadas, aventuras, algum sofrimento, amores, sonhos, lágrimas de saudades, realizações.. o quarto se encheu da minha história.

Achei tanta coisa esquecida. Achei uma prova de matemática, que eu tirei 9,0 sem colar! (fato raro). Achei um bilhete de correio elegante dizendo:"para caipira mais chique e linda que conheço e que roubou meu coração"...rs

Achei meu primeiro holerite. Uauuu!! até que eu ganhava bem. Achei meu convite de formatura, onde eu fui a oradora de turma. Achei também o convite da minha primeira apresentação do Ballet.

Achei bilhetes de classe. Achei uma foto minha de biquíni asa delta. (Essa foto escondi. Tenho meus motivos).

Achei um cheque sem fundos de R$ 24,00, pela data do cheque eu tinha 18 anos. Com o tempo aprendi que ter cheque e cartão não significa ter dinheiro e minha mãe agradece até hoje por eu ter aprendido isso.

Achei uma receita de arroz, que tinha uma observação minha dizendo: "ficou papa, e um pouco salgado". Hoje meu arroz é ótimo. A gente evolui, na cozinha e na vida.

Achei a carta que escrevi pro meu filho, um dia antes dele nascer. Chorei. Porque percebi o quanto era menina tentando ser mulher, o quanto estava com medo de não ser boa pra ele, de não dar certo.  Parei e agradeci porque até agora tudo foi perfeito, porque estou me saindo bem nesse papel, e por ele ser um menino incrível!

Achei uma carta endereçada a mim mesma, no dia que sai de casa depois de 7 anos de casada. Era uma carta cheia de coragem, me incentivando a me descobrir de novo, a ir atrás da Marcela que ficou perdida no meio de tantas incertezas. Nesse momento ser forte pra dizer chega, pra recomeçar valeu a pena.

Achei uma foto com meus irmãos e minha mãe com chapéu de boiadeiro, que tiramos nas férias. Cada um de nós num cavalo com um capataz tocando vaca. Achei um cartão de aniversário lindo do meu pai pra mim. O cartão com aquela letra impecável, o português perfeito e cheio do humor do meu pai bem a cara dele. Achei as fotos de uma viagem pra Cancun, que paguei com meu dinheiro e fui sozinha. Só no avião percebi que havia exagerado na questão "ser bem resolvida", porque só tinha gente namorando, noivos ou em lua de mel. Mesmo assim me diverti muito, fiz amigos e desci do avião namorando.  

De repente minha cama estava cheia de papéis, fotos... tudo estava ali espalhado, acomodado, assim como está em mim. Quase pude tocar toda alegria de ter vivido tudo aquilo, quase pude sentir todo desejo, todo colorido e todo som que essas coisas tem na minha vida.

Achei um álbum do meu aniversário de 22 anos no meu sítio. Uma festa linda! A primeira foto do álbum era eu cortando o bolo e fazendo o meu pedido de aniversário.

Nesse momento fechei meus olhos e fiz meu pedido de hoje. O pedido foi: "eu quero sempre, sempre, lembrar de tudo. Não quero esquecer nada, nem um dia, nem uma pessoa que passou ou está na minha vida. Eu quero que meu coração seja sempre assim aberto pra tudo, que meus olhos possam enxergar a beleza simples das coisas, que meus pés continuem dançando essa música que toca dentro de mim, que meus braços sejam fortes pra segurar o que precisa ficar e soltar o que precisa ir. Que a minha cabeça tenha algum equilíbrio pra eu não me machucar, que eu não esqueça nunca da som da minha risada, porque em vários momentos foi isso que me fez seguir até aqui."

Dizem que se a gente conta o que pediu, o pedido não se realiza. Mas, eu sou abusada, acredito que a vida vai continuar me presenteando, porque sou uma boa menina.

No meu aniversário de 38 anos, não me dei um vestido, uma sandália, uma viagem de presente. Esse ano me dei de presente uma caixa de lembranças. Me dei mais uma vez a oportunidade de me reconhecer em cada parte da minha história.

E acho que Deus deve ser um sujeito que realmente me conhece, porque ele fez tudo do jeito que eu gosto, da maneira que eu aguento e que me fez crescer. 

Fui dormir dizendo pra mim: "hoje eu tenho 38 anos, um filho, minha família, meus amigos e uma caixa de lembranças...sou feliz, tenho meus tesouros."

E agora esse texto vai pra minha caixa. E um dia esse texto vai ser lido novamente, quem sabe será na minha festa de 50 anos. 

E quem sabe você estará lá também, sinceramente será um prazer dividir o bolo com você.

O que você quer ser quando crescer?

Eu sempre quis ser Advogada. Acabei fazendo Administração. Depois de 15 anos de formada (o número está certo, não se assuste), participei essa semana do 1º encontro da turma da faculdade.

Uma delícia rever todo mundo, ou melhor, quase todos, alguns não foram. A equação [(algumas pessoas x 15 anos) - cabelo + alguns quilos + um pouco de barriga + filhos + casamento] = o tempo passou e a fila andou pra todo mundo, foi resolvida por todos. Mas, cada um obteve um resultado. Pra essa equação não existe um gabarito.

Cada um seguiu seu caminho, alguns trabalham na área, outros tomaram rumos diferentes.

Outro dia num evento do meu trabalho, numa escola tinha um painel no corredor com os desenhos de alunos do primário. O painel tinha o título "O que você quer ser quando crescer?". No painel havia desenhos do que cada um queria ser. A Carolina queria ser médica, o Pedro bombeiro, o Eduardo Advogado, a Maria Clara bailarina.... e o Caio queria VOAR!

Parei e olhei com cuidado o desenho do Caio. Era um menino com asas. Lindo demais. Quando somos crianças queremos ter super poderes, e nos igualar aos heróis. Portanto, querer voar é algo aceitável nessa idade.

Tem gente que vive mais voando do que aqui na terra. Consegue viver além disso tudo, dessa loucura de fazer tudo dar certo todos os dias. Eu admiro isso.

Voltando...no encontro da faculdade conversando com uma amiga ela me disse: "tô com quarenta e poucos anos, e não sei o que tá acontecendo comigo, tô gostando de coisas que não gostava, vendo as coisas diferentes, querendo viver outras experiências, tô com vontades muito loucas"... eu dei risada. Fora tudo que possa estar se passando na cabeça dela, hormônios são isso, uma volta de 24hs numa montanha russa. Ou, isso tudo está acontecendo porque as asas dela estão começando a crescer.

Ela continuo dizendo: "a vida deu um jeito de me prender no chão, deu um jeito de me segurar, senão, não sei o que teria sido". Comigo também foi assim.

A vida podou as minhas asas. Fiz muita coisa, mas, voei pouco. Tive algumas responsabilidades fora de hora, isso me fez crescer e não voar.

Quando estava indo embora do evento na escola, dei mais uma olhada no desenho do Caio. Fiquei com uma vontade imensa de escrever pra ele. Teria escrito: "Caio, querido seu desenho é lindo, e a sua vontade de querer voar também. Prometa pra mim que você não vai deixar que a vida te faça rastejante, terrestre, confinado. Que você veja esse mesmo desenho daqui  há 30 anos, sorria e diga EU VOEI! , por fim Caio, te desejo sorte e coragem nesse grande vôo".

Todo mundo tem asas. Tem gente que tem asas grandes, pequenas, atrofiadas, cortadas, amarradas, livres...mas, elas existem.

Uma andorinha tem uma asinha, uma águia tem uma asa enorme. As duas podem voar para onde quiser. As duas são iguais, as duas voam. Numa gaiola as duas também são iguais, as duas são infelizes, as duas estão presas.

Voar não depende de tamanho, de ter dinheiro, de ser isso ou aquilo...só depende de fazer o que se gosta, o que te realiza, em todos os sentidos da sua vida. Eu entendo é difícil. Isso também não significa ser irresponsável, inconseqüente, magoar pessoas.

O ser humano é perito em se sabotar. Constantemente, e inconscientemente (será?!) damos um jeito de manter as nossas asas bem comportadas. E quando isso escapa ao nosso controle, quando as nossas asas crescem demais ficamos paranóicos e com medo das nossas novas vontades e dos novos caminhos.

E todo mundo começa a dizer: "você viu fulano tá louco! pediu demissão e foi morar na Austrália. Você viu a sicrana acabou com um casamento de 20 anos. Só pode ter pirado!"

Pude notar superficialmente que a turma da faculdade está feliz, se todos estão voando não sei. Isso é muito particular.

Só sei que hoje quando acordei e me olhei no espelho, pude jurar que vi duas asas pequenas crescendo nas minhas costas.

E eu só desejo que elas se tornem grandes e rebeldes o suficientes pra me fazer voar, sair desse chão.

Pro Caio continuo desejando sorte e coragem, e pra você desejo, um par enorme, lindo e forte de asas.

Já passou da hora de sairmos dessa gaiola.

Vida passada e vida presente

Há um tempo atrás jogando Tarô (não me diga que você nunca fez isso porque eu não acredito) com um conhecido, ele me disse que eu carregava um carma muito pesado da minha vida passada. Que tudo que eu havia vivido e feito no passado justificava a minha posição e postura diante da minha família hoje. Pode ser.

Muitas vezes me sinto responsável por tudo. Isso tem um peso enorme. Por isso ás vezes me cobro demais e outras vezes sou uma negligente distraída e finjo que não é comigo.

Ele continuo... “ você em outra vida foi mãe dos seus irmãos e dos seus pais. O seu filho foi seu marido e você assassinou todos”

Foi um choque. Mesmo acreditando cegamente que isso se passou em outra vida, eu havia sido uma assassina. Meu Deus!! Que horror!

Não é complicado pra mim acreditar que eu, meus irmãos, meus pais e meu filho temos uma ligação espiritual,  e isso se estende pelas encarnações, eu acredito nisso.

Mas, que eu havia matado todos, isso achei muito pesado. Culpa não tem uma medida, mas, pesa toneladas e toneladas na consciência e você carrega por séculos. Por isso os consultórios estão cheios, tem gente ficando doente da alma e fazendo terapia. Culpa, da culpa.   

Pensei porque fiz isso? O que eles me fizeram? Ainda penso nisso, todas as vezes que eles me irritam, que eu fico P.... da vida com eles, penso que supostamente já os matei. De uma forma louca isso me acalma. Porque se eu fizesse isso nessa vida, considerando o julgamento Divino seria reincidente no crime, não teria direito a responder em liberdade, e todas aquelas coisas de réu primário, e sei lá o que eu seria na próxima encarnação. Então, xingo, brigo, falo alto mas, não mato ninguém e depois me culpo claro.

Uma outra vez fiz regressão, nesse lugar me disseram que fui pastora. Eu perguntei: De Igreja??? Porque se fosse até daria pra entender a enorme vontade de falar que tenho agora, nessa vida.

Responderam: Não, você foi pastora de ovelhas.

Fiquei me imaginando sozinha, num pasto com as minhas ovelhinhas, meu cajado, ouvindo aquele som béeeeeeerrr...béeeeeerrr confesso que achei um horror também.     

Essa Roda da vida é muito louca, de assassina da família, á pastora de ovelhas, á mulher, mãe, separada, funcionária pública nessa vida.

Nossaaaa!Tem que tomar um porre pra acreditar nisso tudo.

Eu não sei você, mas, eu tenho certa obsessão pelo passado e futuro. Isso é ruim. Porque eu desenvolvi a síndrome da máquina do tempo (acabei de inventar essa síndrome, ela não existe) você vive no passado, quer ir logo pro futuro e acaba não vivendo direito o presente.

Sabemos que não existe quem diga sobre o nosso passado (vida passada)e o futuro. Ninguém tem esse poder. Nem toda paranormalidade, todo charlatanismo, toda vontade absurda de ficar procurando sarna pra se coçar que cada um tem, vão responder perguntas que só a gente honestamente pode responder.

As escolhas de hoje serão os fatos daqui um tempo, só isso.  Essa é a maior lição, e a mais difícil de aprender.

Só existe o hoje, o agora e o presente. Então, o certo é focar nisso.

Não sei se fui assassina, pastora de ovelha, ou sei lá o quê... eu sei que hoje sou a Marcela. Uma pessoa bem comum, com problemas, dúvidas e soluções comuns, mas, estou tentando ser EXTRAORDINÁRIA.

Mesmo que EXTRAORDINÁRIA seja não me atrasar pra chegar no trabalho, escutar o meu filho falando do 1º dia de aula, dar atenção as minhas coisas, namorar um pouco, ir patinar no parque, fazer uma nova amizade...

Ser extraordinária HOJE, apenas HOJE do seu jeito. Afinal, um dia de cada vez, o presente já é o bastante.