Depois de algum tempo a gente
entende que a vida continua, que é bonita, simpática, inteligente, que não toma
rivotril ainda e que quer ser feliz. Fato.
Depois de alguns convites, resolvi
aceitar o convite pra jantar. Achei melhor marcar no restaurante. Parece
impessoal, porém, altamente seguro para o primeiro encontro.
Tive o cuidado de me arrumar bem.
Escolhi uma roupa interessante, tipo aquela que diz quem você é sem gritar. Passei
hidratante, perfume, cuidei da depilação, escolhi um esmalte vermelho, uma
sandália fina, usei pouca maquiagem, até na lingerie pensei. Tudo isso fiz sem
intenção, fiz por protocolo. Se vai, vai direito.
Afinal, como dizia Vinícius de
Moraes: “as feias que me desculpem, mas beleza é fundamental”. Sai de casa
segura. Honestamente falando bonita, pra ser vista e admirada. Com toda humilde
que cabe na situação.
O restaurante era muito fino e agradável. Escolha dele. Chegamos
juntos. Ainda bem, porque a situação de esperar alguém é horrível pra mim.
Atravessei o salão e percebi os
olhares. Principalmente os olhares das mulheres, ai acreditei que estava linda!
Incomodar uma mulher faz toda diferença pra a segurança de outra mulher.
Sentamos. A conversa fluía. Eu
não disse muito. Sobre o passado então não falei nada! Ninguém precisa saber
quem você amou, e nem quem te amou e todo o resto. Tenho aprendido coisas, ficar
de boca fechada e de coração aberto são duas dessas coisas.
Claro que fui simpática, educada,
joguei charme. Toda mulher testa seu poder de sedução. Faz a gente voltar pra casa feliz, com auto estima na lua
no mínimo.
Percebi que ele estava gostando,
que estava interessado. E sabia qual era o interesse dele. Comi pouco. Bebi
duas taças de vinho. Digamos que fiquei solta, mas com os pés no chão.
O jantar estava ok.
Ele era articulado, gentil,
seguro, moço fino, bonito! Mas só falou de carros! Vamos combinar que falar de
música, livro, filme, viagem, até falar da vida dos outros é mais interessante
que falar de carro.
Enfim, ele não me surpreendeu
parte 1.
E comecei a passar a mão no
cabelo. Logo estava longe, dispersa e morrendo de vontade de sumir.
Vamos deixar claro que quando eu
passo a mão no cabelo nem sempre é isso. Ás vezes estou fantasiando coisas, mas,
estou ali e não num outro planeta.
Notei os detalhes. O relógio, o
perfume bom que vinha dele, os dentes, a maneira como ele tratou o garçom. Não se
iluda, ele também fez isso. O primeiro encontro é sempre uma prancheta na mão e
uma avaliação detalhada da pessoa.
Ás vezes falha. Ás vezes dá tudo
errado e mesmo assim vira romance. É como receita de bolo, você segue passo á
passo, mas se o bolo vai crescer ai é outra estória. É uma reação química tanto o bolo como a relação crescer.
Inclusive meus bolos nunca crescem,
melhor eu mudar a metáfora.
Fui ao toilet. Olhei no espelho e
disse: “Não faz essa cara. Não faz esse bico. Você sabia que podia ser assim.
Agora volta lá e resolve isso”.
Resolvi. Olhei com uma carinha de por favor não me leve a mal mas está tarde
(era cedo ainda) amanhã acordo cedo (o dia seguinte era sábado) e só faltou eu
dizer literalmente: “e aproveita bem o abraço de despedida porque você nunca
mais vai me ver”.
Ele pediu a conta. Antes sugeriu:
“A noite tá tão boa, você não quer continuar o papo num outro bar?!”.
Mentalmente pensei: “Pra você continuar falando de carro?! Tô fora!”.
Mas gentilmente disse: “Fica pra
uma próxima. Tive um dia difícil” (mentira! você já viu funcionária pública ter
dia difícil?! É raro!).
Então, ele rasgou elogios, falou
que adoraria repetir o encontro e que meu sorriso iluminou o jantar.
Ah! até que ele foi fofo! Mas
como fiquei muito mal acostumada com as palavras e o significado delas ele não
me surpreendeu parte 2.
Sim, ele foi gentil, educado. Pagou
a conta, pediu o meu carro, e lógico mostrou o carro dele (um luxo!) e me deu
um abraço forte demais. Como um homem depois de tantas descobertas
interessantes, avanços tecnológicos, ainda pode achar que um carro pode
conquistar uma mulher?
Eu disse uma mulher. E não uma
espécie de fruta misturada com mulher.
Pegou na minha mão, e terminou
dizendo: “Foi muito agradável, mas poderia ser melhor é só você querer”. Hãa???
Como assim no primeiro encontro e sem ter acontecido nada?! “é só você querer???”. Homem realmente está
ficando muito mal acostumado.
Não vou culpá-los. A maioria das
cinderelas de hoje estão descalças. Não perderam só o sapatinho, mas, toda
elegância, charme, bom senso. Volto atrás na minha posição vou culpá-los! Perderam
muito de tudo isso por causa dos homens, ou por falta deles.
Gente! Porque a gente não gosta
do que está na mão??? Dá pra alguém me explicar?! Porque tudo parece perfeito e
simplesmente não rola?
Abri um sorriso e na mais estampada
cara de pau disse: “Adorei também! Mas calma as melhores coisas demoram um
pouco pra acontecer!”. Nossa fui fundo! Mulher quando quer é um bicho, vai por
mim. Como diz meu amigo, Carlos Eduardo
vulgo Gallo:“Mulher é um bicho que sangra todo mês e não morre! Como posso
confiar?!”.
Sem dúvida essa “as melhores
coisas demoram pra acontecer” NUNCA vão acontecer. Não com ele.
Fui pra casa com o som do carro
no último. Cantando e feliz. Feliz porque até que tive uma noite agradável,
considerando que ele fez de tudo e eu não fiz quase nada para agradar. Sei lá se
isso pode ser bom. Talvez só meu complexo de deusa grega tenha ficado feliz.
Esse foi só o primeiro de alguns,
ou muitos, tomara poucos jantares de “esse encontro vai dar no que?”. Mas
enquanto isso, vou me divertir, conhecer, analisar e brincar.
E sem peso na consciência, eles vivem fazendo
isso com a gente.
Até eu me render, cair de quatro,
babar pelo charme de algum deles. E de novo beijar, gostar, querer e me apaixonar
perdidamente!
O que você espera de uma pessoa
que tem a palavra amor no nome? MarcelAMORetto! Vivo o amor, espero por ele, sou
par.
Foi legal ter ido no jantar,
divertido. Mas não foi 3 “i”. Irresistível, inesquecível e incrível (minha nova
forma de balizar o amor) e pra isso não precisa ter “O CARRO”, mas, aos meus
olhos ser “O CARA”. Ou seja, ele não me
surpreendeu parte 3. Então por favor o próximo. Porque esse virou meu amigo. Certeza.
Aqui entre nós a lista de amigos
está imensa.
Mas, a gente nunca sabe quando
vai ter baile, quando vamos dançar a noite inteira de olhos grudados no moço e
como uma adolescente não querer jamais que a noite acabe.
É a gente nunca sabe,
mas a gente espera que o baile aconteça, e que depois o moço vá atrás da gente e nos surpreenda com o sapatinho nas mãos.
Será que a síndrome de Cinderela tem cura?