quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A loja do meu pai



Como alguns imigrantes meu pai veio para o Brasil ainda moço, procurando oportunidade. Chegou sozinho e teve que se virar sozinho também.
Uma oportunidade aqui, outra ali,  e a vida era apertada.  Todo imigrante que queria trabalhar encontrava trabalho. E quem trabalhou prosperou. Tinha muita coisa pra fazer, dava pra arriscar, errar, arriscar de novo, e acertar. Hoje essa chance de errar é bem pequena.
Eles trabalhavam, mas, a grande maioria queria ter seu comércio, seu próprio negócio.
Finalmente meu pai jovem ainda, juntou todas as suas economias, a coragem, a vontade de vencer e assumindo uma dívida pesada confessada em duplicatas comprou sua própria loja.
Conta ele e minha mãe que não foi fácil. No começo era muito trabalho, pouco crédito, recursos escassos e quase faliram.
Enfim, o que era pra durar 6 meses, durou 20 anos!
A loja ficava na  Rua: Barão de Itapetininga, centro de São Paulo. Era numa esquina boa, vistosa.
Chamava-se MAXI-SOM.
Era uma loja de discos, LPs  e outros artigos como: agulhas, fitas K-7, filme de máquina fotográfica, canetas finas, e com as mudanças mais tarde vendia CD.
Apesar de algumas crises, ela venceu. E dela saiu tudo. Educação, comida, conforto, saúde, lazer, férias na praia. Dela saiu a nossa vida.
Apesar de ter visto inúmeras vezes meu pai apreensivo, com o movimento da loja, preocupado em como iria pagar as contas, como todo comerciante, considerando tudo, foi um prospero negócio.
Meu pai no "mundo do disco", como ele costumava dizer, não era uma potência, existiam lojas maiores e mais lucrativas.
Mas meu pai era respeitado, tinha prestigio porque sempre foi um homem correto, justo e bom. E ainda é.
Muitas vezes ele reclamou dizendo: “O centro esgota!”
O balcão é muito cansativo, precisa ter paciência e o tino comercial.
Todo mundo cansa do seu ofício um dia.
Vi a loja mudar algumas vezes por causa das reformas. Lembro de quase tudo nela, da disposição dos discos, da vitrola, das decorações comemorativas, dos cartazes promocionais das gravadoras, do balcão, da caixa registradora, da escada que dava pro estoque e escritório, do catálogo de agulhas, da vitrine.Lembro com amor e nostalgia.
Nós, eu e meus irmãos, crescemos indo pra loja. Pegávamos o ônibus Praça do Correio e íamos sozinhos para o centro. Eram outros tempos. Não havia essa maldade, esse tempo perverso e pervertido.
Quando íamos era por algum interesse lógico. Afinal, toda criança, adolescente é interesseiro.
Sempre comíamos no Mc Donald´s do lado do Mappin, comprávamos roupa na Mesbla, tomávamos sorvete, comprávamos doces na Kopenhagen, de tarde era pão de queijo e suco de laranja.
Era só diversão, sem preocupação de quem pagava a conta da farra.
Meu pai ficava quase louco com a gente lá. Porque queríamos fazer tudo. Ficar no caixa, fazer embrulhos, procurar agulha no catálogo, enfim, a gente queria “brincar de trabalhar” só que com dinheiro, caixa registradora e clientes de verdade.
Meu pai deixava por um tempo ou quando a loja estava sem muito movimento. Nossa felicidade era imensa porque a gente estava “trabalhando”.   
Tenho tanta saudade dessa loja. Tenho e sinto tanto amor por esse lugar mais que qualquer lugar que eu tenha vivido.
Lembro-me do telefone de lá 255-0290. Lembro-me do meu pai de braços cruzados na esquina olhando o movimento. Lembro-me do letreiro, e da bagunça que era o estoque.
Não me esqueço dessa loja que com certeza foi a melhor fase das nossas vidas, mesmo considerando as ressalvas.
A loja me lembra uma mulher. Cheia de charme, manhosa, guerreira, com seus encantos e desencantos, mas, feminina, delicada, caprichosa e muito forte!
O centro mudou, o comércio mudou, todo mundo começou a ir para os Shoppings. Porque é mais glamoroso, mais seguro e mais bonito do que as ruas do centro que já estavam começando a ficar decadentes.
Meu pai passa o ponto, vende a loja por causa do altíssimo aluguel. Deu medo. No fim foi na hora certa, porque senão teria sido mais doloroso.
Porque estou escrevendo isso? Porque ontem eu sonhei com loja. Sonhei que estava escutando música lá dentro.
Olhei tudo nela e me reconheci mulher como ela sempre foi. Deu saudade de tudo.
Ontem fiz  39 anos e na hora de apagar a velinha, rodeada dos meus amigos, pensei que metade do caminho já foi. E foi bom demais até aqui.
Como imagino que se a loja tivesse alma (e eu sei que tinha) foi viver seus 20 melhores anos com a minha família.
Quando ela fechou, foi como enterrar um ente querido. Doeu.
Como ontem foi meu aniversário, e tenho direito a um pedido, hipoteticamente pediria pra viver mais um dia na loja do meu pai.
Com certeza comeria no Mc Donald´s, compraria uma roupinha na Mesbla, a tarde comeria o pão de queijo e tomaria o suco de laranja, depois compraria língua de gato na Kopenhagen.
Eu ficaria no caixa, colocaria uma música do Legião Urbana pra tocar (porque era o sucesso que eu mais gostava de ouvir) esperava a tarde cair, e as 20 horas veria meu pai baixar as portas de ferro da loja. Eu voltaria pra casa com meu pai exausta e profundamente feliz porque mais um dia eu tinha “brincado de trabalhar”.
Pena que ainda não inventaram a máquina do tempo, porque ontem de presente eu teria pedido mais um dia na loja do meu pai.
Pediria mais um dia de menina só pra ver meu pai feliz de novo.
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A viagem



Acho que todo mundo conhece a premissa quer conhecer de verdade alguém viaje com essa pessoa ou case-se com ela em outros casos. Pois bem, nos dois casos essa é a verdade. Eu já viajei com gente que depois de 2 dias queria para sempre na minha vida. E o contrário também aconteceu.
Já soube de relacionamentos que começaram após uma boa viagem, e outros que acabaram sem perdão.
Viajar com a família não é diferente. Nos primeiros dias aquele amor de sangue, de laços, depois de uns dias...todo mundo já brigou, já se matou e o amor já juntou de novo na mesa do almoço. 
E se viajar com a família é bom porque a recordação entra pro coração e no álbum da família, pior quando há brigas. Porque com a família a roupa suja é lavada em qualquer  lugar e na frente de quem estiver presente. Sem pudor, educação e vergonha colocamos o que está engasgando pra fora. Mesmo se o que estiver engasgando for um pedaço de panettone do natal de 3 anos atrás e não tiver nada a ver com a viagem.
Acabei de fazer uma viagem de férias de 15 dias com meu filho e minha irmã. Tivemos dias excelentes. Nos divertimos muito e rimos muito de tudo e um do outro. Mas, existiram  os momentos “cinzas” (aqui não me refiro ao chatinho do Christian Grey) normal.
De fato é difícil conciliar gostos, desejos, temperamentos e até frescuras de cada um.
Um come isso, o outro não. Um quer acordar cedo, o outro não. Um brinca, o outro emburra. Um quer ficar, o outro ir embora.
Andando por onde estive, notei que acontece com todo mundo! Ninguém está imune. Presenciei cada briga que pelo amor! Briga de irmãos, esposa e marido, filho e mãe. Quase um UFC travel!
O momento é pra relaxar mas, rola um stress básico sempre.
Viajar para outros lugares, países, na maioria das vezes  proporciona conhecimento, cultura, novas amizades e muitos e inesquecíveis “micos’.  E pagar “mico” é uma das melhores partes da viagem sempre.
Nessa viagem foram poucos “micos”, porque já conhecíamos os USA. E mesmo assim fizemos umas besteiras quase aceitáveis.
No primeiro dia deixamos (sem acusar ninguém era minha irmã que dirigia) o farol do carro ligado e quando voltamos pro carro com mil compras, 700 sacolas, exaustos, e as 9 p.m., a bateria do carro havia descarregado.  Na hora falei um palavrão que prefiro não escrever no texto para não deixá-lo chulo. Tudo se resolveu  em 15 minutos. Pois, o “safety car” do “outlet” fez a  “pacifier” a famosa chupeta brasileira e a bateria recarregou. Ufa!
Num outro dia (quase todos) deixamos o carro aberto. Num outro eu esqueci o ingresso do parque no hotel, e voltamos tudo de novo para buscá-lo. Outro perdemos o carro no estacionamento, novamente o “safety car” nos salvou.
Bom, sem contar que o GPS falava vire aqui e eu dizia é lá na frente e errávamos o caminho algumas vezes. Assumo, algumas vezes que eu opinei. Após o terceiro dia de viagem, fui proibida de falar quando entrava no carro. E me calei.
E no penúltimo dia eu resolvi assumir o comando do GPS, num momento que o co piloto (meu filho) dormia no banco de trás do carro e quase que de repente paramos em Miami.  
Adorei que tudo isso aconteceu (eles não), porque constatei que sou uma perdida. Meu GPS cerebral e (também o emocional) está conectado com a lua, só pode. Ah! gente sou um pouquinho distraída fazer o quê?!
Voltando a questão de viajar para conhecer alguém, é isso mesmo que acontece. Conhecemos como a pessoa dorme, como ela acorda, se toma banho todos os dias, etc, etc... e principalmente conhecemos a “nossa”  pequena ou imensa capacidade de tolerar o outro.
Porque vamos combinar todo mundo tem seu jeitinho fofo de ser. Se toleramos, amamos, gostamos, convivemos mesmo nas diferenças. Se não toleramos, por educação e para não sermos presos por assassinato suportamos até acabar a viagem e só.
A minha viagem de férias foi ótima! Tirando minha relação de ódio pela Cláudia (GPS) tudo transcorreu bem.
Foi bom ver meu filho maduro, centrado, ponderado, falando inglês (muito bem) deu orgulho dele. Foi muito bacana vê-lo feliz, descobrindo o novo, observando e tirando suas conclusões.
Fiquei em paz por perceber que já dá para soltá-lo (só um pouco) no mundo, porque ele tem valores, é educado, inteligente e não vai fazer feio e nem se meter em encrenca por aí.
Tá confesso foi excitante fazer umas comprinhas, afinal, ninguém é de ferro ou fez voto para hare krishna.
E agora voltar para o arroz com feijão que é a vida é bom. Porque se é bom viajar, melhor ainda é voltar.
Nada como seu colchão deformado pelo peso do seu corpo, nada como seu chuveiro que esquenta pouco, nada como se sentir confortável no seu dia a dia bagunçado e corrido. E nada como não precisar de GPS nessa vida.
E depois de cansar de tudo isso, viajar de novo. É assim a vida, de chagadas e partidas, de rotina e férias.
Assim somos viajantes! Assim viajamos, tiramos fotos, conhecemos, experimentamos, compramos, fazemos novos amigos, voltamos e contamos (no meu caso aqui no blog).
Assim viajando buscamos relaxar e voltamos mais cansados. De qualquer forma é um cansaço diferente, prazeroso.
Assim viajando e voltando a cabeça volta boa, o coração fica feliz e a vida cheia de lembranças para compartilhar.
A vida é feita de rotina e férias essa é a melhor montanha russa que existe!

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Marcela Moretto

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Uma mulher, uma menina, uma criança...tentando aprender.