quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Mãe aos 40


Há 13 anos atrás eu sai numa matéria da revista Cláudia, sobre mães de diversas idades. A matéria entrevistou e fotografou quatro mães e seus filhos.
Na época eu tinha 27 anos e o Arthur 2 anos. O teor da entrevista era saber como foi e era ser mãe naquela idade. Quais os medos, os desafios, os planos para o futuro.
Na entrevista falei que a gravidez não foi planejada. Que o casamento passou por um momento muito difícil após o nascimento do Arthur, mas, que depois as coisas entraram nos eixos. Que os planos para o futuro era fazer pós graduação, seguir em frente, pensar e cuidar de mim.
Bom, dos planos, seguir em frente foi o que se realizou. Com a correria de trabalhar fora, cuidar de casa, do filho e um pouco de mim a pós ficou pra trás.
Quem é mãe sabe que sobra muito pouco tempo para outras coisas. Demora para o bebê ser menos dependente da mãe e dos seus cuidados.
Nesse tempo a vida se escreveu em mim. Foram dias tranquilos com o Arthur, ele sempre foi um bebê calmo e saudável. Ele disse um dia desses que eu dei muita sorte com ele. E concordo com ele, eu dei uma baita sorte mesmo. Ele foi um bebê, um menino e hoje é um adolescente maravilhoso, nunca deu trabalho, dor de cabeça. 
Não dá pra dizer numa entrevista de uma página o que é ser mãe. É muito raso, é muito pouco espaço pra explicar. 
Ser mãe são dessas coisas que precisa sentir na pele pra saber, pra dizer.
A maternidade te rouba um pouco de ser mulher, de se cuidar, de se gostar as vezes, de se ver.
Toda sua atenção, sua preocupação, seu olhar, seu sentir, é do seu filho, é da sua cria.
Ficamos sensíveis mas, meio bicho, meio ariscas, meio meigas, é uma mistura forte de todos os sentimentos. É uma fome de posse, de cuidar, de proteger.
Toda mulher sem exceção torna-se outra mulher após ser mãe.
A transformação do corpo, das atitudes, do sentir de dentro pra fora, começa logo no primeiro segundo que a gente sabe que vai ter um filho.
Tudo muda. São os hormônios, é a mutação mais perfeita, lógica e emocional que existe.
Fora todo medo de falhar, de faltar, sobra a coragem de amar. Amar com todas suas forças, de todos os jeitos e formas. Amar sem limites, sem poréns, sem porquês, sem vírgulas, sem pontos, sem atalhos. Apenas amar.
A minha vida seguiu. Cada dia foi um dia. Me separei, me virei, o Arthur cresceu, aprendi com ele, com meus erros e com as minhas escolhas. Aprendi sendo mãe sozinha, sem babá, sem frescuras.
Sem dúvida hoje sou alguém muito melhor, muito mais eu. Ser mãe aos 27 anos é meio desencanado. Eu não botava peso nas coisas, cuidei, aproveitei a fase sem medo, sem pressão. De algum jeito eu sabia que ia dar tudo certo e deu. Intuição de mãe.
Hoje depois de 15 anos vou ser mãe de novo. Dessa vez a gravidez foi planejada, dessa vez a gravidez me deu um pouco de medo.
Medo de não ter pique, de não saber como se faz, do bebê ter algum problema. Medo de ser mãe com todas essas modernidades de agora.
Foram alguns dias pra ficha cair, para eu aceitar que ia começar de novo, pro medo ir embora.
Mas, mãe é um ser corajoso por natureza e a gente respira e vai. 
Na reportagem da revista Cláudia, a mãe de 40 anos, fez inseminação artificial por dificuldades de engravidar e era mãe de trigêmeas. Imagina a loucura, o gasto, a disposição que precisa ter.
Na entrevista ela se dizia feliz, completa e realizada após a maternidade. Você percebe nas respostas dela, uma mãe mais madura,  mais serena e menos ansiosa mesmo com trigêmeas. 
Hoje é assim que eu vejo essa gestação, mais madura, menos ansiosa.
Não estou comprando tudo que vejo pela frente, não estou pensando no quarto com mil detalhes, não estou alucinada lendo tudo sobre bebê como qualquer mãe de primeira viagem.
E por que? Porque é uma outra viagem. Essa viagem tem lugar marcado e a bagagem hoje é maior.
E isso acalma, isso te faz segura pra todo resto. 
A maternidade aos 40 ou após os 40 está mais acessível, as mulheres estão focando na carreira e depois tendo seus filhos com calma, com planejamento e até com os parceiros certos.
Muitas vezes uma maternidade precoce gera filhos abandonados por seus pais. Abandonados por medo, imaturidade, vergonha, insegurança, dificuldades.
Com 40 anos eu vou ser mãe de novo, agora de uma menina. E se o medo passou e estou toda corajosa pra enfrentar essa gravidez, ser mãe de menina ainda é uma novidade.
Fico pensando como será? Vamos ser amigas? Vamos nos dar bem? Ela vai me amar? Vamos gostar das mesmas coisas?
Está certo eu falei que não estava com medo e nem ansiosa, mas, eu menti oras. Grávida também mente.
Eu não pensava mais que seria mãe e mãe de menina ainda vai ser um grande desafio.
Mas, estou aqui. Vendo o barrigão crescer, vendo meus olhos brilharem por tudo que é rosa e tem laço, vendo minhas energias irem para uma outra mocinha.
Eu quero muito que ela tenha o melhor de mim. Quero que ela seja saudável, leve, feliz, engraçada, de bem com vida e com todos. Quero que ela se pareça com o Arthur e também com o Fernando, o pai dela.
Penso nela 24 horas agora. Penso no rostinho, nas gracinhas, penso em tudo que ela vai passar aqui como mulher. Nessa obsessão por regime, por moda e por ser gostosa de hoje que cada mulher vive. Penso como será o namorado dela. E como vou falar com ela sobre menstruação, pílula e a primeira vez dela.
Ainda faltam uns bons meses, mas, como eu não estou ansiosa e nem com medo eu vou pensando nessas coisas sem parar.
Estar grávida é isso a gente fala uma coisa e sente outra. A gente tem vontade de uma coisa mas, ao mesmo tempo pode enjoar só de olhar.
Estar grávida é a contradição da certeza. Porque a única certeza que a gente tem é que dormir mais um pouco é muito bom.
Eu vou ser mãe aos 40 anos da Luana, e se hoje eu fosse entrevistada por uma revista sobre o que é ser mãe com essa idade, eu diria ainda não sei, mas, otimista que sou aposto todas as minhas fichas que vai ser maravilhoso, muito louco e que eu vou dar conta do recado.
Mas, se cabe um pedido assim despretensioso lá vai: Luana, coopera filha! dorme a noite toda por favor. Te amo desde a barriga. 

Seguidores

Tecnologia do Blogger.

Marcela Moretto

Marcela Moretto
Uma mulher, uma menina, uma criança...tentando aprender.