quinta-feira, 28 de março de 2013

Madrid, Barcelona, 2 costelas quebradas e amizade


Chegando em Madrid fiquei encantada. Como sempre o asfalto é outro, um tapete, a conservação dos lugares é impecável, a limpeza das ruas é notável, a arquitetura é histórica e charmosa. Percebi que a língua não seria o problema. Afinal, que brasileiro não sabe falar  fluentemente o portunhol.
O povo espanhol assim como toda Europa está vivendo uma crise. Eu vi muitos mendigos nas ruas, não há emprego, o dinheiro está escasso.
Mas, encontrei um povo gentil, educado, solicito. Ah! também encontrei Jesus. É não foi um encontro evangélico, religioso, mas, um encontro normal, porque o gerente/dono do Hostel chamava-se Jesus. Super simpático conhecer Jesus na Espanha.
Acabamos ficando num lugar bem localizado, que possibilitou conhecer tudo a pé. Nessa viagem constatei que sou melhor com os mapas e com os pés, do que com o GPS e o carro. Acho que apesar de ser uma ferramenta meio antiga, é mais romântico procurar no mapa e encontrar andando o quer. GPS é uma coisa muito prática pro meu gosto antiquado.
Bom Madrid foi assim...arte, caminhada, casaco, cachecol, vinho, mercado, parque, tapas!
Foi em Barcelona que tudo teve um brilho diferente. Teve uma beleza de cinema, um argumento Pedro Almodóvar.
Nem preciso falar que me apaixonei perdidamente por ela. Cada canto, cada beco, a praia, a arte de Antoni Gaudí, Pablo Picasso, os bairros, restaurantes, o estádio do Barça, ou seja,  Barcelona é espetacular. Não se vê um fio cobrindo a cidade tudo é subterrâneo, só a beleza que é exposta e exibida de tal forma que chega até ser pecado.
O lugar cheira caso de amor! Daqueles tão quentes que queima alma e crema qualquer culpa.
A gente come bem, toma vinho que não dá dor de cabeça, e nem ressaca moral, vê tanta beleza, que a boca não consegue traduzir. Parece que por 4 dias toda a minha realidade ficou no “break” e vivi outra vida. Sem me achar, e já me achando a Penélope Cruz, juro me senti a mulher mais charmosa, mais elegante e mais feliz. Sensações causadas talvez pelo efeito do vinho. Tudo bem tá valendo.
Quase todo mundo anda de bicicleta, lambreta, moto. O trânsito é civilizado. A cidade tem um colorido forte, a alegria e todos os bons sentimentos transformam-se num grande mosaico.
É exatamente assim.
A noite perder-se no Bairro Gótico é sem dúvida garantia de um bom vinho e altos papos.
Numa das noites em que fizemos isso, eu, e a Geórgia (uma das amigas que viajou com 2 costelas quebradas sem se queixar de nada!) divagamos sobre as relações, o amor, a amizade.
Concluímos mil coisas. Entre elas que o vinho solta a língua. Imagina a minha que já é solta pra caramba.
Mas, o ponto alto da conversa foi uma coisa que eu após um tempo me descobrindo com terapia e experiências vividas, concluí e disse: Enquanto nós agirmos esperando a aprovação do outro, de verdade não conseguimos dar um passo. O importante é se aprovar! E a Geórgia complementou: “Verdade, quando você se aprova você não dá um passo, você corre meia maratona”.
O amor na sua forma mais crua é assim consigo e com o outro. ACEITAÇÃO. APROVAÇÃO.
Não se muda ninguém, não se transforma nada, o amor seja ele de homem e mulher, pai e filho, ou mãe e filho, amor de amigo, é aceitar, aprovar, todos os sabores e dissabores que o outro possui.
Em cada igreja que eu entrei, eu rezei, agradeci pela viagem e por hoje eu me aprovar 90%. Essa porcentagem não foi sempre alta assim, mas, consegui utilizando uma ferramenta bem simples...deixei de pensar 90% nos outros. Eu sei que faltam 10% de cada lado. E talvez vá faltar sempre. Mas, 90% é um número bom. E hoje já corro meia maratona certeza.
Como tudo que é bom dura o tempo que tem que durar, Madrid, Barcelona, acabou em 8 dias.
Foi com pesar que me despedi dessa vida boa, desses lugares tão maravilhosos.
Foi um prazer viajar entre amigos e encontrar outros por lá.
Sem dúvida a Espanha deixou uma boa história em mim. E não é assim que é um grande amor?!
Sim, um grande amor mesmo quando acaba deixa uma boa história na gente, e olha me sinto abençoada por todas as minhas histórias.
Obrigada Madrid, Barcelona por escreverem em mim coisas que jamais vou esquecer.


quinta-feira, 21 de março de 2013

Paula, e só uma segunda chance



Mês passado precisei tirar o meu Antecedentes Criminais por causa do trabalho. Como não consegui tirar pela internet, fui até um Poupa Tempo.
Lá chegando, na fila, conversei com uma moça. Ela era tatuada, vestia uma roupa colada e colorida, tinha um sorriso fácil e bonito. O cabelo era vermelho com a raiz por fazer. As unhas estavam roídas e com esmalte descascado.Ela também estava lá pra pegar os seus antecedentes criminais.
Conversamos sobre a eficiência dos serviços do Poupa Tempo. De fato algo que funciona com eficiência nesse Brasil cheio de serviços ineficientes.
Cada uma pegou uma senha e foi aguardar ser chamada.
Quando fui chamada, após umas consultas o atendente me disse: “A senhora precisa pegar a senha da mesa 47”.
Achei estranho. Fui para fila novamente e peguei a senha da mesa 47. Estava sentada, aguardando ser chamada, quando a mesma moça abruptamente senta-se ao meu lado.
E me diz: “Vi que você também pegou a senha da mesa 47. Qual o crime que você cometeu?”
Olhei pra ela e disse: “Como assim? Nenhum!”
Ela explicou: “Quem pega essa senha cometeu algum crime. Eu acabei de sair.”
Eu disse: “Sair de onde?”
Ela responde: “Da cadeia. Sai da cadeia dia 23 de janeiro agora. Estou aqui pra pegar os meus antecedentes criminais porque não estou conseguindo emprego”.
Eu olhei sem susto. Puxei papo.
E perguntei: “Qual seu nome? Porque estava presa?”
Ela disse: “Paula. Tráfico de drogas e formação de quadrilha.”
A Paula me contou que ficou presa 1 ano e meio, que se meteu com o tráfico por causa de um namorado. Que ganhou dinheiro fácil, que tinha tudo, mas, foi pega. Que cumpriu uma parte da pena e agora podia responder em liberdade. Tinha três filhos. Estava nervosa porque estava com todos os documentos em dia e só queria os antecedentes criminais para trabalhar.
Conversei como quem conversa com uma amiga. Sem ressalvas, sem preconceito, sem medo.
Gente, se eu faço amizade e converso até com samambaia imagina ex-detenta! Pra mim foi fácil.
Ela insistiu, perguntando: “Sério você não cometeu nenhum crime?”
Respondi: “Que eu saiba não.”
Ela era simpática, alegre. Falava muitas gírias e confessou que só quem já puxou cana viveu no inferno.
A mesa 47 me chamou, mas, antes olhei pra ela, nos olhos, ela pegou na minha mão e disse: “Boa sorte”.
Foi um boa sorte de amiga, de alguém que você nunca viu, mas, que sai da forma mais honesta, sincera e inocente que há.  Foi um boa sorte de alguém que quer ter uma segunda chance.
Fui pra mesa 47. Fora todo constrangimento do atendente pensar e me perguntar se eu já tinha sido envolvida com drogas, ou com o crime, comigo não tinha nenhum problema, nenhum crime, eu só precisava pegar uma certidão objeto e pé de um processo que fui vítima.
Quando sai da mesa 47, eu e a Paula nos cruzamos novamente.
Disse pra ela com total intimidade com o mundo dela: “Ufa! Tô limpa! Não é nada.” Essa sou eu entrando no clima total.
E disse mais: “Paula, se cuida! Não vai ser fácil, terão muitos te fechando as portas, mas, anda na linha. Não volta pro tráfico, não se envolva com homens que te colocam nessa vida. Fica na linha certa, siga seu caminho no bem , vale a pena. Vai dar certo, vou torcer por você.”
Ela me deu um abraço, um beijo e agradeceu.
No final bateu a mão no coração bem mano e falou: “Boa sorte pra nós”.   
Juro, sai de lá emocionada, tocada, querendo de todas as maneiras que essa moça tivesse essa segunda chance.
E pensei, quantos de nós não precisamos de uma segunda chance? Cometemos muitos erros. Não estou falando somente de crimes. Falo de casar de novo, escolher outra profissão já com idade avançada, de refazer uma grande amizade, de cuidar de alguém que abandonamos, de não se envolver com drogas, de nos cuidar, de conversar com alguém que não teve tempo... são muitas segundas chances existentes.
Que segunda chance você gostaria de ter? Eu tenho as minhas segundas chances. Talvez elas não aconteçam. Pode ser.  
Ter uma segunda chance pode ser enterrar coisas que nos enterram e ressuscitar com todas as forças para vida.
Saber identificar, aproveitar, cuidar, dessa segunda chance é essencial.  Ás vezes ela vem de um jeito diferente, numa profissão nova, num outro estilo de vida, numa outra forma de ver o mundo, na cura de uma doença, numa pessoa diferente, num outro tempo, mas, é a sua segunda chance.
É o seu momento de agarrar um sonho, uma oportunidade e ser melhor, andar por onde você nunca esteve. Sair da sua zona de conforto e se jogar de corpo e alma em algo que você quer muito.
É a sua segunda chance de DAR TOTALMENTE CERTO.
Eu não vou mais ver a Paula, foi um encontro ocasional e talvez espiritual, mas, ela me fez perceber e desejar uma segunda chance para algumas coisas.
No mais, quero que ela tenha e saiba aproveitar a dela.
Boa sorte Paula.

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Marcela Moretto

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Uma mulher, uma menina, uma criança...tentando aprender.