É como eu digo sempre, o
texto é um, está escrito inclusive, mas aí muda tudo. Porque quem escreve aqui
é minha vida, são os fatos que se passam nela.
Eu só psicografo a crônica, acho que é um pouco disso.
No
domingo passado vivemos, eu e minha família, por um momento de angústia,
aflição e desespero incalculável. Era cedo quando o meu celular tocou. Do outro
lado a minha cunhada disse: “Seu irmão infartou”.
Fiquei em choque! Porque
um infarto aos 38 anos costuma ser fatal, fulminante.
Pensei no pior. Apesar
da gravidade do caso, a rapidez do socorro fez toda diferença. Ele escapou! Foi
um pequeno milagre ele ter resistido.
O meu irmão do meio
sempre foi o do meio mesmo. Aquele que não é o mais velho e, portanto, o
primogênito, o mais importante (eu claro) e nem o mais novo, o mimado (minha
irmã). Não foi fácil ele crescer e ser visto no meio de duas mulheres cheias de
personalidade e atitude. Ele sempre foi mais na dele, quietão e sossegado em
casa.
Mas, conversando com os
amigos dele, os nossos amigos, todos dizem: “Seu irmão é muito louco!”. Logo,
não resta dúvida da família mesmo.
Ele tem um jeito doce,
carismático, brincalhão. Um pouco atrapalhado com algumas coisas. Mas, um
menino do bem. Raro ter alguém que não gosta dele.
Tirando toda a parte
ruim do acontecido, o desespero, a angústia de você pensar que pode perder um
irmão, alguém que você ama, ver sua família pagar uma conta absurda de
hospital, ver seu pai, mãe, cunhada, irmã, apavorados... existiu um lado bom
disso tudo.
O meu irmão em poucos
dias falou, viu e teve junto dele, tanto em pensamento, mensagens, telefonemas,
pessoalmente, quase todos seus amigos de infância.
Foi como nos velhos
tempos. Como se a campainha de casa tivesse tocado e aquele bando de moleques,
no corredor do meu andar, fazendo a maior bagunça, gritando, com uma bola na
mão, tivesse ido chamar ele pra jogar bola.
Juro, foi uma corrente
do bem total. Todos queriam ajudar, saber, participar. Todos mostraram o quanto
ele é querido e amado. Foi lindo de ver!
E numa boa, ele precisava
disso. Ele precisava dos amigos perto! Ele precisava se sentir amado! Ele
precisava se sentir menino de novo!
Quem numa fase da vida,
já homem feito, não precisa disso?!
Claro, que um infarto é
uma maneira dura de ter tudo isso de novo, mas, é uma maneira de se sentir
vivo, e não só vivendo. Se a gente não toma as rédeas da própria vida, a vida
não hesita e começa ela mesma a fazer o caminho.
Nem sempre o caminho é
leve. Ao contrário, ás vezes o caminho é o da dor. Se a gente não tem coragem
para parar e observar que tem algo de errado, ela dá um jeito de te fazer
parar.
E você pára. Por um
tempo, ou pra sempre.
Depois de passar por um
baque desse você se questiona, muda de vida, de hábitos, se avalia.
As pessoas a sua volta
nem sempre compreendem a mudança, porque como você, elas também estão acostumas
com seu jeito, personalidade, fraquezas.
Eu espero que de alguma
forma meu irmão se questione, se avalie, saia do conformismo e mude o que não o está fazendo bem e feliz.
Nesses dias comprovei
mais uma vez que se a vida vale a pena (e vale) os amigos são parte do que vale
a pena.
Ver nesses dias todos os
“moleques” que cresceram comigo envolvidos com a situação, dispostos á tudo, me
deu a certeza de paz, amor, conforto de família reunida de novo.
Eu cresci num prédio de
maioria meninos. Imagina! Ás vezes me sinto um deles. Porque não existe pudor!
a conversa vai de bola, churrasco, problema de família, namorada, educação do
filho, á puta.
Eu amo cada um! Meu
irmão ama cada um! É a nossa vida, nosso pedaço de história por aí vivendo hoje
suas guerras, suas vitórias como no jogo de WAR que eles amavam jogar na
recepção do prédio.
Meu irmão ficou abalado
com tudo. Fato. Mas, tenho certeza que a alegria de estar perto dos amigos, da
família, fez ele se sentir vivo de novo e não só vivendo (repito). Porque existe uma diferença absurda em estar vivo e estar vivendo. Existe um vácuo, um abismo de frustrações. E mesmo com
o coração hoje debilitado tenho certeza que o dele bateu mais forte por se
sentir importante, fundamental na vida de alguns.
Agora com tudo sob
controle, ele reagindo a medicação, está todo mundo aliviado e feliz. E penso
que essa é uma sensação incrível de ser sentida, as pessoas felizes porque você
está vivo.
Os amigos, já estão
combinando balada, churrasco, bagunça, claro que tudo inviável para um cardíaco
casado.
Mas, a intenção é estar
perto, botar ele pra cima, a intenção é dizer pra ele: “Sai desse banco de
reserva e vem jogar com a gente cara”.
Esse time de loucos, com
todo tipo de gente, com brigas, risadas, amizade, é o timão do coração de
verdade.
Esse é o time que veste
a camisa e vai pro ataque porque quer ganhar o campeonato.
Hoje escrevendo algumas
mensagens e lendo outras reparei que escrevi uma ora infarto com “i”, em outro
momento enfarto com “e” e até enfarte com “e” no final.
Fui buscar no dicionário
o uso correto da palavra, porque me confundi toda. E constatei que as três
formas estão certas e podem ser usadas. Porém, na medicina o mais correto é
infarto.
Sei lá, se é certo um
homem de 38 anos, meu irmão, que eu só quero bem e amo, ter um infarto, enfarto
ou enfarte. Só sei que esses dias o coração dele quase parou e os nossos
corações os de irmãs, esposa, mãe, amigos, pai, sobrinhos, cunhado, cunhada, sogro,
sogra, bateram mais fortes por causa dele e do amor que a gente sente por ele.
E hoje eu só queria
dizer: “Obrigada menino do meio por ter ficado com a gente”.
*Agradeço á todos os meus
amigos, amigos da nossa família, amigos do meu irmão, todos os que se
manifestaram, todos que rezaram, que desejaram o bem, valeu muito!!! E em
especial a você, Tereza (cunhada) e sua família por tudo!
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