quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Amizade de muro


Toda vez que viajo a trabalho para o interior de São Paulo, é uma feliz surpresa, apesar do trabalho puxado. Sempre conheço gente cheia de histórias pra contar. E no mês passado em Araraquara não foi diferente. Lá conheci o Sr.Paraná o motorista da van. Um senhor muito simpático, sorriso largo, solicito, desse tipo de gente que você tem vontade de bater papo a tarde inteira, porque ele tem assunto pra dar e vender.
Numa das nossas conversas Sr.Paraná me contou que morou em muitos lugares, mas, como gostava muito de Araraquara foi ali que resolveu ficar e aquietar a vida.
Sr.Paraná, mora numa casa térrea e é vizinho de um casal muito bacana. Contou-me que o Sr.Vizinho dele trabalhou em São Paulo e depois que se aposentou pegou um dinheiro e viajou o Brasil inteiro com a esposa. Depois também gostou de Araraquara e mudou-se com a Sra.Vizinha para casa ao lado da casa do Sr. Paraná.
A Sra.Vizinha, pra mostrar que queria se achegar fez bolinhos e foi levar na casa dele. Começou a amizade. Era uma senhora muito querida, especial, doce e gordinha. Logo Sr.Paraná a apelidou carinhosamente de Dona Bolinha.
Disse que todas as tardes durante quase 20 anos, Dona Bolinha esperava ele chegar do trabalho e no mesmo horário fazia uns bolinhos, um drink Cuba Libre para ela e assobiava para chamar o Sr.Paraná. Iam para o muro. Ela, o marido e o Sr. Paraná, cada um do lado do seu muro com sua bebida, ela com a Cuba Libre, o Sr.Paraná com a Brahma gelada, o marido da Dona Bolinha tomava refrigerante, ele não bebia.
Lá eles viam a tarde cair, a noite chegar e depois cada um se recolhia para sua casa para jantar e ver a novela.
Vida simples, vida boa do interior.
Num fim de semana Dona Bolinha veio para São Paulo para o aniversário de um parente. Toda família estava na festa, ela brincou, comeu, bebeu, dançou, se divertiu a noite toda e de madrugada morreu.
O marido tinha ficado no interior, não foi pra festa e nem pro enterro. Faltou forças. E até hoje falta. O Sr.Paraná disse que fazem 6 anos que o Sr.Vizinho morreu também. Ele morreu mas, a terra ainda não levou. Vive numa tristeza sem fim de dar pena.
Ele disse que a Dona Bolinha faz muita falta, era uma boa amiga. Que sente muita falta dos papos no muro, de vê-la tomando seu drink, fazendo umas coisinhas gostosas para todo mundo comer, tem saudades de ouvir a risada dela.
Ele disse: “Ela era uma grande amiga! Minha família toda sente a falta da alegria dela, da disposição que ela tinha pra fazer tudo para todos de coração”.
Sr.Paraná disse que Dona Bolinha era amiga de todo mundo. Amizade rara, verdadeira. Que sempre tinha alguém na casa dela, conversando, comendo, bebendo, desabafando e saindo de lá com um sorriso no rosto. Ninguém chegava triste e saia triste. A missão dela era ouvir e fazer sorrir quem fosse procurar por ela.
Como nascem as amizades? Com bolinhos? Sorrisos? Ouvidos? Vinhos? Cervejas?
Amizade se faz de afinidade, afeto, empatia, carinho, alegria, verdade, cumplicidade e amor.
Sempre me faço essa pergunta. Como gostamos tanto de alguém pra querer ver toda hora, compartilhar momentos, dores e amores?
Porque essa gente que chamamos de amigo quando nos falta dói pra caramba (eu queria dizer pra caralho)? Dói no peito, na alma, dói e como dói.
Eu me sinto a Dona Bolinha. Sou de amizade fácil. Falo com todo mundo, escuto, choro junto, luto pelas causas, faço rir. Não me custa nada, é de graça.
Como é bom ter amigos. Ter amigos e ser bom tê-los chega a ser sinônimo ou pleonasmo.
Amigo as vezes até atrapalha. Quem já não foi embora de um lugar querendo ficar por causa de um amigo? Quem já não brigou por causa de amigo? Quem já não perdeu o sono por causa de um amigo? Quem já não passou um carão por causa de um amigo? Quem já não emprestou a melhor roupa para um amigo? Quem já não dividiu a melhor parte do bolo com um amigo? Quem já não passou o cartão  mesmo com o saldo negativo por causa do amigo? Quem já não tomou multa por causa do amigo?
Se as vezes amigo atrapalha, saber que ele está ali, do lado, enchendo a paciência sempre ajuda. Ajuda e muito. Ampara, consola, acalma a alma.
Quando eu era menina pequena, porque hoje sou menina grande, eu tinha uma brincadeira com as minhas amigas.
Era assim: Cada uma tinha que imaginar uma ilha perdida e escolher quem ia levar para essa ilha.
Óbvio que a gente sempre escolhia aquele menino que a gente morria de paixão. Mas, a vida vai mudando, a gente cresce, e hoje a minha ilha está lotada de gente.
Não vivemos sem amigos, ou se vivemos, vivemos menos felizes. Eles são parte da nossa vida, do nosso caminho direito ou torto.
Acho que todas as doenças são ruins. Todas trazem dores físicas e emocionais. Mas, rezo e peço que eu nunca tenha Alzheimer. Morro de medo de esquecer as pessoas, meus amigos. Tanto as do presente como as que já passaram por mim.
Eu tenho amigo de todo tipo. E acho que todo mundo tem. Tenho amigo de colégio, prédio, rua, trabalho, praia, amigo de amigo que virou amigo, até ex é amigo. É um bando de gente que me completa.
E cada “turma” tem um jeito, tem um estilo e como cada uma eu danço uma música. E digo são muitos ritmos frenéticos.
Hoje com toda essa tecnologia (e vamos pensar que ela existe a nosso favor), podemos reencontrar os nossos amigos, estar presente na vida deles de alguma forma e eles na nossa vida. Abençoada rede social, que usada para coisas boas aproxima amigos.
Tem uma música que diz assim: “A Amizade nem mesmo a força do tempo irá destruir...”
É verdade. Conheço poucas coisas mais fortes como o tempo. Mas, se existe o tempo que é forte a saudade e o amor são mais!
É por causa da saudade e do amor que as amizades mesmo após muito tempo resistem e duram.
Hoje li um post de uma amiga querida, a Sandra, que eu conheci no show da Roberta Campos. Show que eu fui ano passado, sozinha. Bom, cheguei sentei na mesa dela e do namorado e pronto nasceu uma amizade.
Esse post me comoveu. Dizia sobre a perda de uma amiga para uma doença.
Ela disse: “Não quero ser demagoga, todo mundo sabe o que vou dizer, só num momento tão doloroso e irresistível como este a ficha cai de verdade. Vamos dar valor ao que realmente importa, diga pras pessoas que você ama o quanto elas são importantes para você, se importe com elas, demonstre da maneira mais simples que for, mas não perca nenhuma oportunidade de ser feliz e de fazer feliz! A Fernanda tinha apenas 35 anos, poderia ter sido eu, poderia ter sido qualquer amiga, amigo, parente. Por isso, não deixe para amanhã o que você pode amar hoje!”.
Concordo. Não deixe de ligar, de mandar uma mensagem, de se fazer presente, de ver, de estar junto dos seus amigos. Ainda que a vida seja corrida, ainda que falte tempo, ainda que os caminhos não se cruzem mais, entre amigos sempre vai sobrar amor! E a fé numa boa amizade move montanhas.
Na minha ilha perdida ainda cabe muita gente. Tenho certeza que na sua ilha perdida também.
*Dona Bolinha mesmo sem te conhecer tenho um pedido a fazer receba a Fernanda aí em cima com os seus bolinhos.




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Marcela Moretto

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Uma mulher, uma menina, uma criança...tentando aprender.