quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Que beleza de projeto, que beleza de menina



Há umas duas semanas estive no cabeleireiro para fazer meu cabelo. Justo naquele dia havia acordado pra baixo. Não sou de tristeza e tão pouco me deixo abater, mas, naquele dia estava “down”.

Melhor opção ir pro cabeleireiro, ou melhor Hair Stylist, nada como um bom corte e uma boa escova pra dar uma animada. Chegando lá após me sentar e explicar para o Júnior (Hair Stylist) como queria cortar e fazer as mechas, ele começou a trabalhar.

Imediatamente para ajuda-lo chegou sua assistente Jamile. Para minha surpresa ela era Down. Não down para baixo, mas, portadora da Síndrome de Down.

Desse instante até o término das quatro horas e trinta minutos que passei sentada fazendo o cabelo observei a Jamile.

Jamile é uma moça de fato especial. Ela é rápida, assimila tudo, é organizada, é  proativa, educada, segura, calma.

Faz suas tarefas totalmente comprometida e absorvida com aquilo. Fiquei impressionada. Não estava no celular, não fica de papo furado, ela é focada.

Nunca havia estado diretamente em contato com alguém portador da Síndrome de Down e vi como os meus olhos, eles são absolutamente normais.

Notei uma alegria espontânea na Jamile, que apesar da postura atenta e séria, trabalhou o tempo todo satisfeita e feliz com o que estava fazendo. Raro isso. Quantos de nós ultimamente anda satisfeito com seu trabalho, seu ofício? Ou quantos de nós está comprometido, absorvido e feliz com o que está fazendo para ganhar dinheiro?

Não consegui me conter e nem deixar minha curiosidade de lado, e perguntei pro Júnior como a Jamile havia ido parar no salão.

Ai ele me contou. Disse que uma cliente havia ligado para ele e perguntado se o quadro de funcionários do salão estava completo, porque ela tinha uma amiga, que tinha uma filha que queria muito ser cabeleireira e precisava de uma oportunidade. Ele respondeu que no momento estava com todo quadro de funcionários preenchido, infelizmente. Mas, ela insistiu. E ele quis saber qual era a questão. Sua cliente então falou que a moça era portadora de Down, que ele não precisava pagar o salário dela, pois, ela era custeada pela Empresa Italiana de cosméticos Alfaparf, que mantinha um projeto com curso e treinamento para ajudar jovens com Síndrome de Down. O Júnior não viu nenhuma objeção, apenas salientou que não sabia lidar com uma pessoa que tinha Down, porque nunca tinha tido contado direto com uma, mas, marcou a entrevista.

No dia seguinte no horário combinado compareceu á entrevista, a Jamile, sua mãe e uma Assistente Social.  

Quando o Júnior perguntou para Assistente Social  como a Jamile deveria ser tratada ela respondeu, normal, como você trataria qualquer outra pessoa.

Nesse momento o Júnior disse que ela poderia começar a trabalhar lá. A Jamile prontamente o agradeceu e disse para ele, você vai se surpreender comigo.

Ele me confessou que ficou se perguntando como isso poderia acontecer.

Bom fazem 3 meses que ele é surpreendido positivamente e diariamente pela Jamile.

Que bastou ele explicar uma única vez como as coisas funcionavam no salão para que ela fizesse tudo com muito empenho, perfeição e de forma organizada.

Nem preciso dizer que estava loira, de escova no cabelo, e chorando. Mas foi um choro de felicidade e gratidão por saber dessa história e de ter a oportunidade de conhecer a Jamile.

Pedi a permissão do Júnior para contar essa história aqui no blog. Queria que todos que conhecem os meus textos tivessem a oportunidade de conhecer o projeto da Alfaparf, o Júnior e a Jamile.

Com relação ao projeto tenho a dizer que é maravilhoso ver uma empresa mesmo que não brasileira, acreditando, cuidando desses jovens tão talentosos que precisam de uma oportunidade para mostrar do que são capazes. E olha eles são muito capazes. Do Júnior só posso dizer que ele é uma cara muito do bem, e tem meu profundo respeito, por ter aberto as portas da sua empresa e o fez de braços abertos e sem ressalvas pela causa e pela Jamile. Ele é um super profissional que em momento algum pensou ou teve a indecente ideia que isso pudesse prejudica-lo ou diminuir o prestigio do seu  salão.

Agora a estrela mesmo do texto é ela, a Jamile. Essa moça encantadora que me deu um tapa de luva de pelica dizendo pra mim com todas as suas atitudes que ela acredita na vida e nela. Que não é porque ela tem Síndrome de Down que ela precisa ficar sentada em frente a TV esperando a vida passar e acabar. Que ela não precisa der bajulada ou adulada ela só quer ser tratada com respeito como qualquer pessoa normal ou especial.

Ela quer com todas as suas forças e algumas limitações deixar sua marca na vida.

Geneticamente falando o número de cromossomos presente nas células de uma pessoa é 46 (23 do pai e 23 da mãe), dispondo em pares, somando 23 pares. No caso da Síndrome de Down há um erro de distribuição e, ao invés de 46, as células recebem 47 cromossomos e este cromossomo a mais se liga ao par 21.

Eu sou leiga no assunto, e lamento profundamente por isso, porque nos tornamos arrogantes e ignorantes a medida que o problema não é nosso. Tenho certeza que se eu tivesse um filho, irmão, amigo Down eu saberia que eles são normais, que eles podem ter uma vida normal. Óbvio que os cuidados existem, claro que existe uma liberdade vigiada, mas isso não deve e nem pode ser um entrave pra se ter uma vida com sonhos, objetivos, amigos, amores.

De uma forma lúdica alguns pais de filhos Down e algumas pessoas dizem que esse cromossomo a mais é o do amor.

Não sou geneticista mas arrisco a dizer que sim é o cromossomo do AMOR.

Esse amor que lateja neles por cada tarefa simples executada, pelas pessoas a sua volta, pela alegria de compartilhar suas conquistas, esse amor que os torna inocentes, despretensiosos, felizes por qualquer razão. Esse amor fiel as suas vontades imediatas sem medo das consequências. Esse amor tão confiante e inesgotável que existe dentro deles.

Claro que quem tem esse cromossomo a mais, o cromossomo do amor, precisa ser diferente. Precisa ter o rosto, o corpo, os olhos, as mãos, os cabelos, o sorriso diferente, e talvez seja por isso que eles tenham suas próprias características e se tornem reconhecíveis a qualquer um. São especiais. E normais.   
Pra você que acredita no amor,  assim como eu, eu digo acredite nessas pessoas elas são incríveis e vão te surpreender.

0 comentários:

Seguidores

Tecnologia do Blogger.

Marcela Moretto

Marcela Moretto
Uma mulher, uma menina, uma criança...tentando aprender.