Há
umas duas semanas estive no cabeleireiro para fazer meu cabelo. Justo naquele
dia havia acordado pra baixo. Não sou de tristeza e tão pouco me deixo abater,
mas, naquele dia estava “down”.
Melhor
opção ir pro cabeleireiro, ou melhor Hair Stylist, nada como um bom corte e uma
boa escova pra dar uma animada. Chegando lá após me sentar e explicar para o
Júnior (Hair Stylist) como queria cortar e fazer as mechas, ele começou a
trabalhar.
Imediatamente
para ajuda-lo chegou sua assistente Jamile. Para minha surpresa ela era Down.
Não down para baixo, mas, portadora da Síndrome de Down.
Desse
instante até o término das quatro horas e trinta minutos que passei sentada
fazendo o cabelo observei a Jamile.
Jamile
é uma moça de fato especial. Ela é rápida, assimila tudo, é organizada, é proativa, educada, segura, calma.
Faz
suas tarefas totalmente comprometida e absorvida com aquilo. Fiquei
impressionada. Não estava no celular, não fica de papo furado, ela é focada.
Nunca
havia estado diretamente em contato com alguém portador da Síndrome de Down e
vi como os meus olhos, eles são absolutamente normais.
Notei
uma alegria espontânea na Jamile, que apesar da postura atenta e séria,
trabalhou o tempo todo satisfeita e feliz com o que estava fazendo. Raro isso.
Quantos de nós ultimamente anda satisfeito com seu trabalho, seu ofício? Ou
quantos de nós está comprometido, absorvido e feliz com o que está fazendo para
ganhar dinheiro?
Não
consegui me conter e nem deixar minha curiosidade de lado, e perguntei pro Júnior
como a Jamile havia ido parar no salão.
Ai
ele me contou. Disse que uma cliente havia ligado para ele e perguntado se o
quadro de funcionários do salão estava completo, porque ela tinha uma amiga,
que tinha uma filha que queria muito ser cabeleireira e precisava de uma
oportunidade. Ele respondeu que no momento estava com todo quadro de
funcionários preenchido, infelizmente. Mas, ela insistiu. E ele quis saber qual
era a questão. Sua cliente então falou que a moça era portadora de Down, que
ele não precisava pagar o salário dela, pois, ela era custeada pela Empresa
Italiana de cosméticos Alfaparf, que mantinha um projeto com curso e treinamento para ajudar jovens com
Síndrome de Down. O Júnior não viu nenhuma objeção, apenas salientou que não sabia
lidar com uma pessoa que tinha Down, porque nunca tinha tido contado direto com uma, mas,
marcou a entrevista.
No
dia seguinte no horário combinado compareceu á entrevista, a Jamile, sua mãe e
uma Assistente Social.
Quando
o Júnior perguntou para Assistente Social
como a Jamile deveria ser tratada ela respondeu, normal, como você
trataria qualquer outra pessoa.
Nesse
momento o Júnior disse que ela poderia começar a trabalhar lá. A Jamile
prontamente o agradeceu e disse para ele, você vai se surpreender comigo.
Ele
me confessou que ficou se perguntando como isso poderia acontecer.
Bom
fazem 3 meses que ele é surpreendido positivamente e diariamente pela Jamile.
Que
bastou ele explicar uma única vez como as coisas funcionavam no salão para que
ela fizesse tudo com muito empenho, perfeição e de forma organizada.
Nem
preciso dizer que estava loira, de escova no cabelo, e chorando. Mas foi um
choro de felicidade e gratidão por saber dessa história e de ter a oportunidade
de conhecer a Jamile.
Pedi
a permissão do Júnior para contar essa história aqui no blog. Queria que todos
que conhecem os meus textos tivessem a oportunidade de conhecer o projeto da
Alfaparf, o Júnior e a Jamile.
Com
relação ao projeto tenho a dizer que é maravilhoso ver uma empresa mesmo que não brasileira, acreditando, cuidando desses jovens tão talentosos que precisam de uma oportunidade para
mostrar do que são capazes. E olha eles são muito capazes. Do Júnior só posso
dizer que ele é uma cara muito do bem, e tem meu profundo respeito, por ter
aberto as portas da sua empresa e o fez de braços abertos e sem
ressalvas pela causa e pela Jamile. Ele é um super profissional que em momento algum
pensou ou teve a indecente ideia que isso pudesse prejudica-lo ou diminuir o
prestigio do seu salão.
Agora
a estrela mesmo do texto é ela, a Jamile. Essa moça encantadora que me deu um
tapa de luva de pelica dizendo pra mim com todas as suas atitudes que ela
acredita na vida e nela. Que não é porque ela tem Síndrome de Down que ela
precisa ficar sentada em frente a TV esperando a vida passar e acabar. Que ela não precisa der bajulada ou adulada ela só quer ser tratada com respeito como qualquer pessoa normal ou especial.
Ela
quer com todas as suas forças e algumas limitações deixar sua marca na vida.
Geneticamente
falando o número de cromossomos presente nas células de uma pessoa é 46 (23 do
pai e 23 da mãe), dispondo em pares, somando 23 pares. No caso da Síndrome de
Down há um erro de distribuição e, ao invés de 46, as células recebem 47
cromossomos e este cromossomo a mais se liga ao par 21.
Eu
sou leiga no assunto, e lamento profundamente por isso, porque nos tornamos
arrogantes e ignorantes a medida que o problema não é nosso. Tenho certeza que
se eu tivesse um filho, irmão, amigo Down eu saberia que eles são normais, que
eles podem ter uma vida normal. Óbvio que os cuidados existem, claro que existe
uma liberdade vigiada, mas isso não deve e nem pode ser um entrave pra se
ter uma vida com sonhos, objetivos, amigos, amores.
De
uma forma lúdica alguns pais de filhos Down e algumas pessoas dizem que esse
cromossomo a mais é o do amor.
Não
sou geneticista mas arrisco a dizer que sim é o cromossomo do AMOR.
Esse
amor que lateja neles por cada tarefa simples executada, pelas pessoas a sua
volta, pela alegria de compartilhar suas conquistas, esse amor que os torna
inocentes, despretensiosos, felizes por qualquer razão. Esse amor fiel as suas
vontades imediatas sem medo das consequências. Esse amor tão confiante e
inesgotável que existe dentro deles.
Claro
que quem tem esse cromossomo a mais, o cromossomo do amor, precisa ser
diferente. Precisa ter o rosto, o corpo, os olhos, as mãos, os cabelos, o
sorriso diferente, e talvez seja por isso que eles tenham suas próprias
características e se tornem reconhecíveis a qualquer um. São especiais. E normais.
Pra você que acredita no amor, assim como eu, eu digo acredite nessas
pessoas elas são incríveis e vão te surpreender.
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