quinta-feira, 15 de março de 2012

Ponto para os meninos


Essa semana fui parar no hospital. Crise de asma. Era madrugada e por milagre estava tudo calmo no Pronto Socorro.
Enquanto fazia inalação e era medicada, um menino de 4 anos, o Jonas, tomava soro e era medicado na enfermaria. Virose. Ele nem parecia doente. Não chorou pra colocar o soro e não reclamou de nada.
Falava, falava, falava muito, como radinho de pilha. Quase perguntei se ele queria ter um blog comigo, afinal, sofremos do mesmo mal, da vontade de falar que não passa.
Somente quando o médico foi tirar o soro e dar a alta ele chorou.
O médico disse: “Doeu? Até agora você foi corajoso.”
Jonas: “Não doeu. Mas, você arrancou os meus pelinhos, agora não vou mais parecer com o meu pai!”
Médico: “Mas você não quer parecer com o Neymar?”(ele estava com uma camiseta do Santos).
Jonas: “Não, eu quero parecer com o meu pai!”
Médico e mãe riram.
Eu do meu canto falei baixinho boa Jonas! Mandou bem. Ponto para os meninos!
Você já reparou como nossos filhos numa certa idade querem parecer com a gente? Depois mudam. Mais velhos eles não querem ser nada iguais a gente. Até porque evoluir faz parte do pacote.
Pois é, não entendo muito de futebol. Sei o que é gol, falta, escanteio, impedimento, jogador reserva, juiz, bandeirinha...ah! e gol contra lógico! E sei também que o Neymar é a bola da vez.
Neymar é um garoto incrível, talentoso que tem a sorte de ter a sua volta pessoas que cuidam dele. Inclusive o pai.
O pai do Neymar tentou ser jogador de futebol, sem muito sucesso. Numa entrevista ele disse: “Eu sei exatamente o que o Neymar não pode fazer para as coisas darem errado, eu sou um exemplo disso”.
Com certeza o Neymar está seguindo a cartilha e fazendo a lição de casa direitinho. Nesse caso pai e filho estão felizes com as suas escolhas.
Aproveitando a tarde de repouso em casa revi um filme antigo “Sociedade dos poetas mortos”. Bom filme, com uma mensagem interessante.
O filme fala de meninos que estudam numa escola renomada, cheia de regras e disciplinas escolhidas pelos seus pais, com o intuito dos mesmos, também escolherem para os filhos o seu futuro.
Óbvio que muitos dos meninos não queriam ser o que os pais queriam que eles fossem. E esse era o conflito.
Numa cena do filme, numa aula de poesia, um professor sobe em cima da mesa e diz: “Vocês sabem por que estou aqui em cima?”.
Um aluno responde: “Para parecer mais alto”.
O Professor: “Não. Para enxergar o mundo e as coisas de formas diferentes”.
Na minha opinião, essa  é uma das nossas obrigações enquanto pais, fazerem os nossos filhos subirem nessa mesa. Fazer eles enxergarem o mundo de forma diferente, melhor e com outras possibilidades.
Não sabemos o que vão ver. Mas a visão é deles, é particular.
Os terapeutas e a própria sabedoria popular, diz que o exemplo vale mais que discurso bonito, bronca ou castigo.
Concordo. Esses dias peguei o meu filho brigando com o nosso gato exatamente como faço com ele. Depois de rir, pensei, olha o que eu estou fazendo. Hoje ele fala assim com o gato, amanhã será com o filho dele.
É o exemplo.
Uma casa, a família, o bom exemplo são na vida de uma criança o porto seguro. Se ela tem um ambiente ruim, cresce agressiva, oprimida, angustiada, insegura. Se ela é acolhida, respeitada, tem afeto, disciplina, ela cresce, forte, feliz, segura.
Das duas formas elas vão para a vida e para o mundo. Uns precisam de mais tempo segurando a nossa mão, outros largam logo e começam a andar sozinhos. Mas passarinho mais cedo ou mais tarde voa.
E daí eu pergunto: Qual será a visão deles de cima dessa mesa?
Eu quero que o meu filho tenha sua própria visão. Se ele quiser ser igual, parecido ou não comigo ou com o pai dele, que seja por opção, admiração, escolha e não imposição.
Tem uma música que canta assim: “ser feliz não é o fim, nem aonde chegar, é como você escolhe caminhar”.
É verdade. Eu quero, nós queremos que nossos filhos sejam felizes, mas o caminhar, subir em cima da mesa, e enxergar depende só deles. Nós estaremos por perto orientando. Nada adianta falar línguas, estudar fora, trabalhar numa multinacional, ter um pacote escrito “felicidade” se eles não souberem cair e levantar. Se eles não souberem lidar com a razão, emoção, solidão, frustração, com seus sentimentos e dos outros.
Quando há esse entendimento, e cada um segue a sua verdade, é ponto pra todo mundo, pra nós e pra eles, e aí o empate no jogo vai bem.

4 comentários:

Helena at: 15 de março de 2012 às 12:36 disse...

Concordo em gênero, número e grau!
Quanta facilidade em escrever, parabéns...acho que vc já poderia começar a esboçar um livro, idéias, criatividade não te faltam, se é que já não teremos qualquer dia uma surpresa nas livrarias!!!!
Bjkas.

Sérgio Oliveira at: 16 de março de 2012 às 18:35 disse...

Cheguei aqui por acaso, gostei do texto. Parabéns!!

Waldir Mello at: 17 de março de 2012 às 15:12 disse...

Marcela querida, primeiramente meus votos de voce tenha pronto restabelecimento da saúde,que fique bem.Assisti esse belo filme,com o Robin Willians no papel de professor,realmente uma lição de vida.Voce mais uma vez nos presenteia com um texto de pura reflexão, sobre a arte de viver,saber ensinar, servir de exemplo,sem tolher as asas de ninguem,sobretudo,os nossos filhos.Parabéns!Cuide-se bem!

Marcela Moretto at: 18 de março de 2012 às 08:11 disse...

Queridos,

Helena, Waldir e Sérgio..agradeço o carinho, as palavras e a atenção. Tomara um dia escrever seja minha única estrada.. o meu prazer maior realizado.
Beijos

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Uma mulher, uma menina, uma criança...tentando aprender.