quinta-feira, 12 de abril de 2012

É o que eu sinto hoje


Hoje volto a ter o controle remoto da minha vida nas minhas mãos. O destino me entrega de mãos beijadas a minha liberdade pra eu fazer o que quiser com ela.
Tento desesperadamente mudar de canal. Passo de um canal para outro querendo achar alguma coisa pra prender a minha atenção, me emocionar. Procuro o entusiasmo. Só encontro sensacionalismo barato e masturbação mental.
Hoje a vida volta ao normal. Volta a ser branco e preto.
O colorido foi embora, a brincadeira foi embora e propaganda bonita com final feliz foi embora.
Tudo acabou.
Fico sentada estática, imóvel com o controle na mão, o olhar perdido e com um imenso vazio. Como quando o filme bom acaba.
Ai a gente fala:“Ah! Acabou? Porque? Queria outro final".
Olho pro lado e não tem ninguém pra comentar sobre o filme.
Fico sozinha. Só eu e a antiga novela que me fazia companhia.
Talvez assistir a tudo isso sozinha seja melhor, talvez necessário.
Mas no cinema é bom ir junto, é gostoso o clima de estar em par.
De tudo que vi e vivi, posso dizer que foi diferente de todo o resto. Posso dizer que em alguns momentos foi maravilhoso, beirou até o extraordinário por tanta novidade.
Fico olhando pra tudo e achando que tudo foi um filme bom pra caramba que não levou prêmio.
A mocinha acaba sozinha.
Tem gente que gosta desse fim. Eu não. Prefiro o final bobinho, previsível e feliz, que ás vezes é até sem graça de tão comum.
Mecanicamente pisco os olhos, abro a boca, faço um movimento, sinto alguma coisa, só pra não congelar nessa imagem. Só pro botão do pause não emperrar nessa cena triste.
Lembro das coisas boas, do começo, das palavras, dos carinhos, do jeito seco cheio de doçura...sei que pouco vai sobrar. Na verdade a maior parte vai também.
Assisto á tudo sozinha de novo. Cena por cena.
Suplico pro Continuísta que cuida do filme, deixar eu voltar para cena de forma diferente. Peço pra deixar eu voltar sorrindo, com os cabelos bagunçados, as roupas soltas, e os melhores sentimentos.
Ele não deixa não.
Diz:“Não pode ser assim. A cena continua exatamente como estava”. Tudo continua logicamente infeliz nos mínimos detalhes, perfeita e metodicamente sem sentido.
Não posso mudar nada. Não escrevi esse roteiro.
No papel e na imaginação cabe tudo, na cama também. Mas na prática as coisas são limitadas, os efeitos especiais escassos, e a atriz principal cheia de crise também não ajuda muito. Ela fica sempre pensando no final feliz, e não percebe que viver a história toda é que vale a pena.
Tento escutar outro diálogo, mas o texto decorado repete-se.
Fico só e sozinha de novo.
De tudo que escrevi, podia ter lido uma história de amor.
Mas quem disse que não foi? Quem se atreve?
Acabou com a sensação de que ainda tinha muito pra ser.
Enfim, usando uma frase clichê “o show deve continuar”.
A cortina está fechando e eu só queria continuar flertando com o público.
A cortina fechou e eu só queria ouvir o seu aplauso pedindo Bis da nossa breve história de amor.

2 comentários:

Tiago Moralles at: 12 de abril de 2012 às 14:21 disse...

O texto é lindo.
Mas o papel principal é dolorido.

Marcela Moretto at: 12 de abril de 2012 às 15:39 disse...

Eu também não queria ser a mocinha do texto.Mas...é a vida, são os caminhos.

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Uma mulher, uma menina, uma criança...tentando aprender.