Faz mais ou menos uns dois meses
que eu a matei. Não tive nenhuma dúvida, nem receio de cometer o crime, ou o
pecado imperdoável.
Matei porque ela me sufocava, vivia
me pedindo coisas impossíveis, não respeitava minha vontade de seguir e nem
meus medos, me atormentava com julgamento, e um monte de mi mi mi.
Matei. Ela falava feito louca, me
impedia de ouvir. Ela me cutucava com o passado e a única coisa que eu queria
era ver o futuro, longe dela e de tudo que estava ali.
Você faria o mesmo. Ela era
mimada, e se suas vontades não eram feitas, era um tormento só. Muito chata!!
Pedante! Mau criada!
Confesso conviver com ela era uma
agonia. Ela tinha um jeito de me seduzir que era tão forte e quando via, já
tinha falado, já tinha feito, tudo como ela queria.
Matei porque era matar ou morrer.
Foi legítima defesa mesmo. Foi o desespero de sobreviver, de respirar.
Matei sufocada na minha dor, afogada
no meu choro, enforcada em todas as minhas culpas e remorsos. Matei soterrada
nas minhas dúvidas.
Não me arrependo. Nem um pingo.
Ela até era engraçadinha, mas
passou a ser desnecessária com o passar do tempo. Era antiquada e logo se
tornou obsoleta. Era passado.
Não teve jeito foi numa briga,
onde eu dizia baixo e ela gritava alto, muito alto, ela usava argumentos
confusos, mas aí me descontrolei totalmente, gritei mais alto que ela e disse o
que nunca havia dito: “CHEGA”.
Ela não reagiu, ficou quieta,
calada se surpreendeu com a minha atitude. Depois de uns dias de silêncio
profundo, veio de novo com aquela voz doce me pedindo coisas, feito criança
arrependida.
Não escutei, não ouvi nada. Fui
surda por consciência e amor próprio. Não obedeci.
Ela tentou. Mas não conseguiu. Eu
já estava gostando muito mim. Já estava comigo de novo, de braço dado com a
minha alegria, de pazes feitas com o meu sorriso e a minha pouca paz.
Hoje pensei nela, não sei por que.
Mas pensei sem saudade, pensei só porque ás vezes os fantasmas voltam a assombrar,
pensei por apego. Pensei nela sim, mas
hoje a voz dela virou um grito abafado, sem a menor importância.
Todo mundo tem um pouco do bem e
do mal dentro de si. São dois SENTIMENTOS que o tempo todo lutam pra ganhar
espaço, pra se fazer presente. O bem em mim é muito forte e só me faz crescer,
seguir, viver. Não me afasta de mim mesma. O mal dentro de mim, me faz bem
pequena, dependente do outro, do passado, de coisas que só me fazem parar, me
fazem fechar portas, desistir de pessoas e de mim.
Todos somos dois dentro de um.
Não é a bipolaridade tão na moda, ou é uma pouco no sentido figurado e não
diagnosticado. Cada um tem suas dúvidas, suas dualidades.. .o positivo e
negativo. A verdade, a mentira. O medo, a coragem.
O negativo existe, mas não pode
te dominar, te matar dia á dia. Ele pode e deve existir, isso é natural e
humano.
O positivo existe pra se
manifestar tão forte e incontrolável quanto é viver. Viver bem, feliz e
realizado.
Fazem dois meses que eu matei um
pouco do mal em mim. Dessa Marcela que de alguma forma era o que mais me fazia
sofrer. E você? Tem alguém aí dentro de você que te impede, que te cerceia, que
te angústia? Que te cala quando você tem quer falar? Que consome suas forças
pra seguir? Isso te faz bem? Mal? Como você convive com as duas pessoas que
vivem em você?
Ela foi tarde, perdi algumas
coisas com a Marcela que foi, que eu matei e que morreu, mas a Marcela que
ficou tá me trazendo muito, muito mais, e dessa eu não abro mão.
Matei e tô feliz da vida.
Matei e tô feliz da vida.
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